Resenha: Garota em Pedaços

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ISBN: 9788542209334
Autor (a): Kathleen Glasgow
Ano: 2017
Páginas: 384
Editora: Planeta
Classificação: ❤❤

"Além de enfrentar anos de bullying na escola, Charlotte Davis perde o pai e a melhor amiga, precisando então lidar com essa dor e com as consequências do Transtorno do Controle do Impulso um distúrbio que leva as pessoas a se automutilarem. 'Viver não é fácil.' Quando o plano de saúde de sua mãe suspende seu tratamento numa clínica psiquiátrica para onde foi após se cortar até quase ficar sem vida , Charlotte Davis troca a gelada Minneapolis pela ensolarada Tucson, no Arizona (EUA), na tentativa de superar seus medos e decepções. Apesar do esforço em acertar, nessa nova fase da vida ela acaba se envolvendo com uma série de tipos não muito inspiradores. Cansada de se alimentar do sofrimento, a jovem se imbui de uma enorme força de vontade e decide viver e não mais sobreviver. Para fugir do círculo vicioso da dor, Charlotte usa seu talento para o desenho e foca em algo produtivo, embarcando de cabeça no mundo das artes. Esse é o caminho que ela traça em busca da cura para as feridas deixadas por suas perdas e os cortes profundos e reais que imprimiu em seu corpo. "

Charlotte Davis é uma adolescente que já viveu milhares de coisas das quais muitos de nós não fazemos ideia: perdeu o pai muito nova, anos depois a melhor amiga tentou se suicidar e foi parar em uma clínica de reabilitação muito, muito longe e em condições de quase-morte, sofreu muito bullying durante o colegial, teve que ver a depressão e o decaimento da mãe após a morte do pai, dentre outras coisas que vamos descobrindo ao longo do livro.

Mergulhada em um mar de coisas que não deram certo e de pessoas que a abandonaram e escolheram seguir suas vidas sem a presença dela, ela descobre que se cortar pode amenizar essa dor, talvez se ela se cortar o suficiente, ela seja capaz de não sentir mais nada, nem um milésimo da dor que a corrói todos os dias. Depois de um tempo, ela descobre que se cortar já não é mais suficiente, a única coisa capaz de realmente acabar com essa dor é tirar a própria vida. É assim que ela vai parar no Creeley Center, um centro de reabilitação para garotas que se automutilam, local onde ela passa a conviver com garotas que tem transtornos semelhantes e onde recebe o tratamento de que precisa, mas Charlotte ainda não consegue falar, ela simplesmente não sente vontade de conversar com ninguém porque sabe que uma vez que ela abrir a boca as palavras vão cair e cair e cair e provavelmente ninguém vai querer saber de ouvir ela ou estar com ela, pra variar.
Eu me corto porque não consigo lidar com as coisas. É simples assim. O mundo se torna um oceano, o oceano cai em cima de mim, o som da água é ensurdecedor, a água afoga meu coração, meu pânico fica do tamanho do mundo. Preciso de libertação, preciso me machucar mais do que o mundo pode me machucar. Só assim posso me reconfortar.
Porém, uma série de acontecimentos leva Charlotte à um nível que é impossível não falar tudo. E ela despeja, palavra por palavra. Sobre cada pessoa que passou pela sua vida e a deixou. Sobre cada merda que ela teve que sobreviver. E a psicóloga da clínica acredita que essa era a chave para que Charlotte terminasse a sua recuperação, então, com o aditivo de que a sua família não conseguia mais bancar a clínica, Charlotte recebe alta e precisa voltar a viver em um mundo no qual ela acreditava não ser mais possível ter esperança.

Claramente, ela já não tinha esperança de voltar a viver com a sua mãe, a qual há muito não sabia de Charlotte. Então, como era de se imaginar, a sua mãe lhe dá passagens para que ela se mude para o outro lado do país, no meio do Arizona. Nesse novo lugar ela consegue um emprego, um relacionamento, alguns amigos, um lugar pra chamar de lar. Mas ela conseguirá fugir das suas memórias? Conseguirá se livrar dos comportamentos aos quais se acostumou durante tanto tempo?
Tem a pessoa que os outros veem por fora e tem a pessoa por dentro. E mais no fundo, tem aquela outra pessoa, a enterrada, uma criatura nua e silenciosa, que não está acostumada com a luz. Eu sou assim, e agora, aqui, eu também vejo a pessoa escondida de Riley.
Garota em Pedaços é um livro intenso, impactante e cheio de reviravoltas. A escrita da Kathleen é envolvente e te puxa e deixa imersa no universo que foi criado. Eu me peguei por várias vezes xingando Charlie ou torcendo pra que ela soubesse tomar as decisões certas. O livro é denso, inquietante, por muitas vezes revoltante.
Estou tão cansada e com raiva de mim. Por me permitir ficar menor e menor, com esperança de que ele fosse reparar mais em mim. Mas como alguém pode reparar em você se você vai ficando cada vez menor?
A única coisa que eu acredito que poderia ter sido feito de forma diferente é a forma como os eventos se desenrolam. São muitos eventos e por vezes parece que o livro não tem um foco, um clímax central. Mas fora isso, o livro é sensacional e chama atenção para uma realidade que nos inquieta, que traz a tona uma situação muito importante e que é dona de estatísticas consideráveis e que deveriam ser conhecidas por todos.

A realidade que muitas vezes não percebemos ou não queremos perceber: 1 a cada 200 garotas entre 13 e 19 anos se automutilam e cerca de 70% através de cortes. É terrível pensar que a melhor forma que elas encontraram para acabar com a dor foi essa, ou, pior, que elas sintam tanta dor psíquica, que é necessário usar da dor física para acabar com tudo isso. Que possamos ser mais sensíveis e compreender melhor aqueles que estão ao nosso redor, mesmo que nunca tenhamos vivido suas dores, podemos ajudar com uma palavra, um abraço, buscando por ajuda. Para quem ainda não sabe, o Centro de Valorização da Vida trabalha todos os dias, atendendo pelo telefone 188 em todo o país.

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